ANA LINHARESOur time is out of joint

Exposição
13 Jan – 2 Mar 2024

Inauguração
13 Janeiro 2024
17:00–20:00

Este projeto começou como uma tentativa falhada de lamber feridas, procurar soluções e reconciliar-se com a deficiência, a neuro-divergência, a identidade queer e a não conformidade de género. 

Em Hamlet, Shakespeare afirma que “o tempo está desconcertado”, sugerindo que o tempo pode ser sentido no corpo, no fundo dos ossos e dos tecidos, como uma espécie de “deslocação do esqueleto”*. A investigação e a prática recentes de Linhares centram-se na articulação de uma dissonância em relação à normatividade, onde nem o corpo nem a mente correspondem ao que os valores sociais designam como normal, esperado ou padrão. Linhares vive num tempo Crip e Queer, de linhas temporais que fluem de forma diferente daquelas integradas na norma cis hetero, de corpo e mente capazes, que tem sido imposta como a versão suprema da experiência humana.

Quando se vive no tempo Crip e/ou Queer, cai-se nas fissuras e brechas da sociedade e começa-se a viver na transgressão. A tirania da normatividade determina que ou nos enquadramos nela ou somos automaticamente transgressores: rebeldes ou monstros. 

Neste fracasso ou ruptura com a normatividade, é possível reivindicar um espaço e criar uma existência poderosa, onde não entram cavaleiros de armadura brilhante, empunhando ideais de positividade tóxica e futuridade, onde os “freaks” com próteses podem prosperar.

 

* (Freeman, E.)

 

Ana Linhares (Póvoa de Varzim, 1990) vive e trabalha em Utrecht. Integra projetos, residências e exposições em Portugal, Espanha e Países Baixos. Obteve a licenciatura em Belas Artes pela FBAUP (2012) e o mestrado em Belas Artes e Design pela HKU - Hogeschool voor de Kunsten Utrecht (2019). Foi representada pela KubikGallery de 2013 a 2023. 

Trabalha e colabora em diferentes projectos e contextos, nomeadamente residências e investigação de arquivo e articulação com instituições artísticas. Entre outros prémios e nomeações, Ana Linhares recebeu a Bolsa de Investigação da Fundação Calouste Gulbenkian 2018-2019 e foi nomeada para o Novo Banco Revelação 2018, na Fundação de Serralves. 

Ana Linhares trabalha com práticas arquivais, storytelling, desconstrucção e intersecção de narrativas e linguagem. A artista desenvolve práticas experimentais e investigação articulada com várias áreas das Humanidades (História, Literatura, Filosofia, etc.), usando instalações, diagramas e montagens/composições para sugerir e explorar novas interpretações e possibilidades. Sendo disso exemplo o projecto de longo prazo ‘On Constellations’, com várias edições entre 2017 e 2021. Os interesses de investigação da artista têm-se estendido na articulação do trabalho passado intersectando com teoria e práticas Crip e Queer a nível institucional. Ana Linhares tem explorado as ligações e a articulação entre Crip Queer Temporalities, narrativas, teoria, história e teoria de género. As diferentes fases do seu trabalho foram apresentadas no Casco Art Institute (Utrecht), Hotel Maria Kapel (Hoorn) e Springboard Art Fair (Utrecht).