ROSA RIUS GATELLA amizade e o cultivo da atenção em Simone WeilCiclo Imagens de Pensamento

Curadoria de Susana Camanho & Emídio Agra

Era uma vez um mundo que não estava em conflito. Quando? Onde? Não saberia dizer. Nem poderia garantir que tivesse existido. O que posso garantir é que, num momento em que a Europa estava mergulhada em duas guerras mundiais, bem como no conturbado período entre guerras, a filósofa Simone Weil (1909-1943) convidou-nos a investigar as raízes da injustiça e da violência. Perante tanta dor e desamparo, procurou incentivar quem lesse os seus textos a reflectir sobre o que desejava transmitir. Consciente da época em que vivia, usou as suas palavras para denunciar tanto horror. E fê-lo incitando a adoptar uma atitude de espera (attente) que pressupõe, acima de tudo, atenção. Prestar atenção ao outro, ao mundo, à sua beleza e à sua desgraça (malheur), ao amor e à amizade. Por isso, um dos objectivos desta conferência será reflectir sobre o cultivo da atenção. Assim, a partir deste conceito-chave do pensamento weiliano, abordaremos alguns dos interesses éticos e estéticos desta autora, guiados pela sua concepção da amizade.

Rosa Rius Gatell é professora honorária da Universidade de Barcelona e membro do Seminário Filosofia e Género da mesma universidade. O seu trabalho de investigação articula-se em torno de dois eixos: a filosofia do Renascimento e o pensamento das mulheres em diferentes períodos da história, em particular nos séculos XVI e XX. É editora de vários volumes colectivos, entre os quais se destacam: Pensadoras del Siglo XX. Aportaciones al pensamiento filosófico y político (2011) e Lectoras de Simone Weil (2013), ambos com Fina Birulés. Entre as suas publicações, vale a pena destacar o estudo introdutório e as notas críticas da Historia de las mujeres filósofas, de Gilles Ménage (2009; 4ª edição, 2023), e artigos como: “De antiguas sabidurías: Simone Weil y María Zambrano” (2013), “À la recherche des savoirs anciens. Simone Weil dans l’air du temps” (2014), “María Zambrano et ‘l’art qui fait voir’” (2015), “De la belleza, el arte y la pintura ‘verdadera’ en Simone Weil” (2017), “Simone Weil lectora de Maquiavelo” (2018), “María Zambrano, notas sobre la alegría y el dolor” (2021), “Notes sur le rôle de l’art chez María Zambrano et Simone Weil” (2023), “Receptoras y transmisoras de María Zambrano en el mundo del arte” (2024).

Imagens de Pensamento

Imagens de pensamento dá título a este ciclo de conferências que abre um espaço na programação do Sismógrafo para pensar as imagens e através das imagens. Pretende-se com estas conferências unir o discursivo e a imagem, confrontá-los, reconhecer o potencial de uma imagem, de um fragmento, resgatando experiências vitais ameaçadas num presente incerto. Estes tempos da “pós-verdade” e dos “factos alternativos”, turbulentos e inquietantes, tempos de pandemias, de crises ecológicas, financeiras, políticas e sociais, são “tempos interessantes”, para usar a expressão popularizada por Eric Hobsbawm. Tempos interessantes especialmente para o pensamento. Pensar é já contribuir para uma mudança. Este ciclo reivindica uma cooperação entre a força expressiva da arte e a precisão da filosofia. Sem uma linguagem que as acolha, as imagens podem cegar-nos ou nada dizer. Com estas conferências, o Sismógrafo procura cuidar o que Alexander Kluge chama um “jardim de cooperação”, um lugar que preserva os momentos em que a palavra e a imagem convergem de forma a produzirem algo novo, um espaço para a discrepância e a cooperação face às cacofonias da informação, face à manipulação industrial e escravização dos sentimentos. Em tempos difíceis, de cisões e segregações, a cooperação apresenta-se como um antídoto do tribalismo (Richard Sennett). Para abrir na cidade este jardim, este espaço de debate e polifonia, o Sismógrafo convidou oradores ligados à filosofia, à estética, à crítica de arte, às artes plásticas e ao cinema que, em diferentes momentos e desde diferentes perspectivas, procurarão apresentar um diagnóstico do presente.